Ganhei finalmente coragem para divulgar em primeira mão, um desenrolar de acontecimentos que marcou profundamente a minha vida e acabou por ter um papel fudamental para fazer de mim a pessoa que sou hoje.
Tudo se passou no ano de 1993. Tinha eu 7 anos e era uma criança problemática. Brincava ao "Macgyver" para prejuízo físico dos meus familiares e acertava com bolas de basquetebol nos fios de alta tensão provocando apagões na vizinhança. Até ao dia que os meus pais se dirigiram a mim dizendo:
"Filho. Hoje vamos dar um passeio! Anda! Vai ser muito divertido!! AHAHAH UUHHAAUUHHAAA!!"
Embora a gargalhada maléfica final me tenha deixado um pouco apreensivo, lá fui eu para o banco de trás do meu carro.
A viagem foi longa e silenciosa... tinha a impressão que algo estaria a perturbar os meus pais... mas tinha também a impressão que uma nuvem no céu era extremamente parecida com o leãozinho dos "Ursinhos Carinhosos", e como eu tinha 7 anos acabei por focar a atenção na tal nuvem...
O carro parou... olho pela janela e vislumbro aquilo que me pareceu uma lixeira. Saímos do carro e dizem-me os meus pais:
"Então? Gostas da remodelação que fizemos ao teu quarto!?"
Olho à minha volta e quando me viro para os meus pais para lhes responder, reparo que já se tinham apressado para dentro do carro e tinham já arrancado a grande velocidade.
Estranhei a pergunta uma vez que os meus pais nunca me pediam opinião acerca de remodelações, mas achei de uma extrema falta de educação terem virado costas antes de eu responder. Notei que atiraram um papel pela janela... Fui buscá-lo e nele li a mensagem:
"Filho... Quero que saibas que gostamos muito de ti mas a verdade é que tu és bastante... como dizer... eeer... chato. Não tentes regressar a casa pois o caminho é muito, muito longo. É verdade mulher, desligaste o fogão? Eu sei que não vi a boca com lume mas às vezes pode ter sido o vento que apagou e agora está o gáz a saír. É um perigo do caraças! Ok, eu vou já ver isso. Olha lá, tu estás a escrever isto tudo que te estou a dizer!? Eu sei que disse que ía ditar mas a mensagem para o trengo do nosso filho já acabou praí à meia hora! Ai queres um final de jeito? Então escreve: Beijinhos de todos cá em casa e agasálha-te!"
Passados três meses a dormir num colchão putrefacto, partilhando restos de comida com ratazanas e bebendo chuva, comecei a duvidar que aquele sítio fosse efectivamente o meu quarto remodelado. Mas na altura não dei demasiada importância a esse facto, até porque há uns dias atrás, uns homens misteriosos tinham ido ao meu quarto despejar montes de saquinhos com um estranho pó branco que eu tinha passado dias a inalar...
Mais dois meses passaram e eu apercebi-me realmente o que tinha acontecido: Com a pressa, os meus pais esqueceram-se de mim naquele sítio! "Eles devem estar preocupadíssimos!" Pensei eu. Inalei os últimos restos do pó branco, saltei para o dorso do meu belo unicórnio prateado e gritei: "Galopa Firmino!! Galopa como o vento!!!!"
Duas horas depois, reparei que não tinha saído do sítio... "Estará o meu unicórnio prateado doente!? Estará morto!!?? Será que não é nenhum unicórnio prateado mas sim um bidon 200 litros deitado no chão!!!???" Como o efeito do pó passou, realizei que a última opção era a correcta. Decidi então pôr-me a caminho mesmo a pé. Seguindo o meu instinto fui dobrando esquinas, escalando subidas e correndo por descidas... Cheguei a um ponto que esse meu instinto me indicava que o caminho correcto era através de um sítio bastante assustador... esse sítio era...................... :
O TERRÍVEL BOSQUE NEGRO ! ! ! ! ! ! ! ! ! !
Não, desculpem... eu engano-me sempre. Não era o terrível bosque negro, era isso sim Fornos de Algodres. Ás vezes confundo porque são nomes parecidos.
Bem. Lá fui eu então através de Fornos de Algodres com o meu pequeno coração a atingir níveis taquicárdicos fora do normal... De repente, vejo ao longe um arbusto a mexer-se. Parei. O medo congelou-me... ... Ganhei coragem e continuei a andar... ... À medida que me aproximava do arbusto, ficava mais e mais assustado... ... O medo atingiu o seu clímax no momento em que estava mesmo ao lado do arbusto que cada vez se mexia mais... ... De repente o arbusto pára. Respirei fundo... ... Mas no momento em que expirava o último ar do meu suspiro... ... SALTA DO ARBUSTO UM TERRÍVEL BIDON DE 200 LITROS!!!!! Mas esperem! Não era terrível! Era isso sim Firmino! O meu leal bidon de 200 litros não me tinha abandonado... O restante caminho era a descer e por isso não hesitei em entrar no meu fiel amigo e rebolar em direcção a casa.
Continuei o meu caminho e quando estava já quase a vomitar... ... Vejo ao longe algo que me renovou as forças: A MINHA CASA!!!!
Atravesso a rua dentro do meu bidon e com lágrimas a escorrerem-me pela face... Sou atropelado por um camião do lixo.
Acordei dias depois rodeado pela minha família que me adora e que nunca mais referiu estes acontecimentos a ninguém.
Bem meus amigos. Sinto-me feliz por partilhar esta aventura convosco mas agora tenho que ir. Os meus pais estão a chamar por mim. Eles gostam mesmo de mim! Deram-me uma roupa para eu vestir e estão a dizer que vamos fazer uma viagenzinha! Hum... Esta roupa está húmida... ... E cheira um bocado a gasolina... ... Mas pronto, adiante. Fiquem bem e até à próxima!!!
Já vou! Ui... ... ... Aquilo é um isqueiro aceso... ...?