Impávido Mas Não Sereno
Boa tarde. Venho por este meio comunicar que eu, Nelson Andrade, lidero a partir de hoje a Associação Portuguesa dos Impávidos (API).
Desde sempre se habituaram a ouvir a expressão: "Impávido e sereno." Mas nunca ouviram o adjectivo "impávido" ser utilizado a solo. Há meses acabei oficialmente com esta vergonha porque venha quem vier, "impávido" é uma palavra e "sereno" é outra!
A antiga Associação Portuguesa dos Impávidos e Serenos (APIS) vinha sofrendo cada vez mais animosidade entre os seus membros, principalmente pelo facto de que já se vinha ouvindo cada vez mais o adjectivo "sereno" sozinho. Então, pensei eu, porque não dizer-mos apenas "impávido"!? E foi a partir desse momento que se agravaram as ameaças anónimas que eu vinha sofrendo devido ao meu pensamento radical.
Felizmente não era o único associado com esta ideia, e então a partir do passado mês de Março começamos a ter reuniões secretas nas quais congeminavamos planos com vista à separação definitiva dos adjectivos "impávido" e "sereno". A 5 de Julho bateram-me à porta de casa com violência... Tremi... "Quem é!?" Perguntei eu a medo, sabendo já que a cruel verdade era que os capangas de Júlio Clemente (Presidente da APIS) me vinham buscar.
Finalmente arrombaram a porta, entraram e um deles disse: "Nelson Andrade. Venha connosco... e mantenha-se impávido e sereno." Ao que eu respondi: "Até irei com vocês... e irei impávido mas NUNCA sereno!!" Senti a perna de uma cadeira anicharsse violentamente na minha nuca e só me lembro de acordar horas depois numa masmorra que cheirava a estrume e que estava muito, mas mesmo muito mal decorada..."
Passei horas sem comer nem beber nada... a minha única companhia era um jarrão chinês e um dálmata de porcelana. Até que de repente...: "Ó MEU SAMÊLO! Anda... vens connosco."
Fui arrastado pelo chão e pelas escadas de pedra acima... quando cheguei ao topo fiquei cego pela luz do Sol e quando, momentos depois, os meus olhos se habituaram, vislubrei uma praça cheia de membros da APIS e vislumbrei também, não desculpem, vi também uma espécie de pódio... mas eles não me queriam dar uma medalha... queriam-me torturar publicamente e quem sabe depois dar-me uma medalha... pensei mais um bocadinho e... : "Não! Eles apenas me querem torturar publicamente!"
Apressaram-se a me amarrar os tornozelos com duas cordas e os pulsos com outras duas... deitaram-me numa tábua com pregos e, através de um mecanismo de roldanas, puxavam as minhas pernas numa direcção e os meus braços noutra. A dor era excruciante e apenas aumentou quando me puseram uns phones a dar a banda sonora da antiga telenovela da SIC "Fúria de Viver". Não consigo expressar por palavras a dor que senti... e também não consigo expressar por palavras aquilo que senti quando pararam momentaneamente a tortura... assim como também não consigo expressar por gestos o acto de fazer um batido de mirtilos.
Júlio Clemente aproximou-se do meu ouvido esquerdo, tirou-me os phones e disse: "Fui eu quem mandou parar a tortura... mas também sou eu que a pode reiniciar. Tudo o que tens que fazer para acabar com a tua dor é gritar o adjectivo 'sereno' para que todos ouçam..." Quase sem forças, encostei os lábios à orelha encebada de Júlio Clemente e sussurrei: "...impávido..." Foi nessa altura que o terrível tirano ordenou que prosseguisse a tortura... a dor voltou ainda pior que antes... senti-me desfalecer e fiquei contente por isso... mas o destino cruel não quis que a morte me levasse (talvez porque o destino cruel uma vez me emprestou o DVD do Shrek2 e eu nunca mais lho dei...) E a verdade é que a dor ía aumentando exponencialmente e eu arranjei forças para gritar: "Parem!!!"
Mais uma vez o tirano se aproximou de mim e disse: "Bem... parece que finalmente caíste em ti e viste a parvoíce que é separar 'impávido' de 'sereno'. Agora faz o que eu te disse e grita bem alto a palavra 'sereno'. JÁ!!"
Conformei-me que o meu sonho tinha acabado e preparei-me para gritar... olhei para as caras na multidão e consegui decifrar bastantes amigos que partilharam comigo reuniões e momentos fantásticos mas que apesar disso, se mantinham impávidos enquanto eu era turturado. Vi lágrimas do meu 'braço direito', Henrique Pereira a escorrerem pela sua face e subitamente começaram a ecoar vozes na minha cabeça:
"Continua firme... vamos conseguir..."
"Levaremos o adjectivo 'impávido' ao topo sozinho!"
"Lembra-te de tudo o que fizemos e de tudo o que passamos..."
"É a ti que devemos tudo. Mantém a esperança..."
"Já me devolvias o DVD, mitra do caraças!"
Estas vozes amenizaram a minha dor... mas foram interrompidas pela voz estridente de Júlio Clemente: "Grita 'sereno'! Agora!"
E então eu ergui a cabeça o mais que pude... enchi ao máximo os meus pulmões... e gritei...:
O meu grito ficou no ar durante aquilo que me pareceu uma eternidade... fazendo com que todos os membros da APIS se arrepiassem e vibrassem com a minha força, a minha vontade, o meu querer e as minhas calças que misteriosamente continuavam simultaneamente na minha cintura e a cobrir os cordões das minhas sapatilhas. Foi então que Júlio Clemente, na sua infinita bondade e misericórdia, disse: "Estiquem-no mais um bocado e executem-no... não, esperem. Hum... Estiquem-no até ele falecer porque assim poupa-se tempo a preencher a papelada."
Escusado será dizer que a dor voltou no seu expoente máximo. Mas movidos pela minha demonstração de coragem, os meus companheiros de ideais revoltaram-se contra Júlio Clemente e seus capangas, conseguido-os dominar e me tirar daquela máquina infernal perante a impavidez dos restantes membros da APIS.
Seguiu-se uma difícil e morosa recuperação no Hospital Pedro Hispano... e finalmente chegamos a este dia. Dia em que vos conto o porquê de há quatro meses eu medir 1,86 m e de agora medir 3,17 m...
Desde sempre se habituaram a ouvir a expressão: "Impávido e sereno." Mas nunca ouviram o adjectivo "impávido" ser utilizado a solo. Há meses acabei oficialmente com esta vergonha porque venha quem vier, "impávido" é uma palavra e "sereno" é outra!
A antiga Associação Portuguesa dos Impávidos e Serenos (APIS) vinha sofrendo cada vez mais animosidade entre os seus membros, principalmente pelo facto de que já se vinha ouvindo cada vez mais o adjectivo "sereno" sozinho. Então, pensei eu, porque não dizer-mos apenas "impávido"!? E foi a partir desse momento que se agravaram as ameaças anónimas que eu vinha sofrendo devido ao meu pensamento radical.
Felizmente não era o único associado com esta ideia, e então a partir do passado mês de Março começamos a ter reuniões secretas nas quais congeminavamos planos com vista à separação definitiva dos adjectivos "impávido" e "sereno". A 5 de Julho bateram-me à porta de casa com violência... Tremi... "Quem é!?" Perguntei eu a medo, sabendo já que a cruel verdade era que os capangas de Júlio Clemente (Presidente da APIS) me vinham buscar.
Finalmente arrombaram a porta, entraram e um deles disse: "Nelson Andrade. Venha connosco... e mantenha-se impávido e sereno." Ao que eu respondi: "Até irei com vocês... e irei impávido mas NUNCA sereno!!" Senti a perna de uma cadeira anicharsse violentamente na minha nuca e só me lembro de acordar horas depois numa masmorra que cheirava a estrume e que estava muito, mas mesmo muito mal decorada..."
Passei horas sem comer nem beber nada... a minha única companhia era um jarrão chinês e um dálmata de porcelana. Até que de repente...: "Ó MEU SAMÊLO! Anda... vens connosco."
Fui arrastado pelo chão e pelas escadas de pedra acima... quando cheguei ao topo fiquei cego pela luz do Sol e quando, momentos depois, os meus olhos se habituaram, vislubrei uma praça cheia de membros da APIS e vislumbrei também, não desculpem, vi também uma espécie de pódio... mas eles não me queriam dar uma medalha... queriam-me torturar publicamente e quem sabe depois dar-me uma medalha... pensei mais um bocadinho e... : "Não! Eles apenas me querem torturar publicamente!"
Apressaram-se a me amarrar os tornozelos com duas cordas e os pulsos com outras duas... deitaram-me numa tábua com pregos e, através de um mecanismo de roldanas, puxavam as minhas pernas numa direcção e os meus braços noutra. A dor era excruciante e apenas aumentou quando me puseram uns phones a dar a banda sonora da antiga telenovela da SIC "Fúria de Viver". Não consigo expressar por palavras a dor que senti... e também não consigo expressar por palavras aquilo que senti quando pararam momentaneamente a tortura... assim como também não consigo expressar por gestos o acto de fazer um batido de mirtilos.
Júlio Clemente aproximou-se do meu ouvido esquerdo, tirou-me os phones e disse: "Fui eu quem mandou parar a tortura... mas também sou eu que a pode reiniciar. Tudo o que tens que fazer para acabar com a tua dor é gritar o adjectivo 'sereno' para que todos ouçam..." Quase sem forças, encostei os lábios à orelha encebada de Júlio Clemente e sussurrei: "...impávido..." Foi nessa altura que o terrível tirano ordenou que prosseguisse a tortura... a dor voltou ainda pior que antes... senti-me desfalecer e fiquei contente por isso... mas o destino cruel não quis que a morte me levasse (talvez porque o destino cruel uma vez me emprestou o DVD do Shrek2 e eu nunca mais lho dei...) E a verdade é que a dor ía aumentando exponencialmente e eu arranjei forças para gritar: "Parem!!!"
Mais uma vez o tirano se aproximou de mim e disse: "Bem... parece que finalmente caíste em ti e viste a parvoíce que é separar 'impávido' de 'sereno'. Agora faz o que eu te disse e grita bem alto a palavra 'sereno'. JÁ!!"
Conformei-me que o meu sonho tinha acabado e preparei-me para gritar... olhei para as caras na multidão e consegui decifrar bastantes amigos que partilharam comigo reuniões e momentos fantásticos mas que apesar disso, se mantinham impávidos enquanto eu era turturado. Vi lágrimas do meu 'braço direito', Henrique Pereira a escorrerem pela sua face e subitamente começaram a ecoar vozes na minha cabeça:
"Continua firme... vamos conseguir..."
"Levaremos o adjectivo 'impávido' ao topo sozinho!"
"Lembra-te de tudo o que fizemos e de tudo o que passamos..."
"É a ti que devemos tudo. Mantém a esperança..."
"Já me devolvias o DVD, mitra do caraças!"
Estas vozes amenizaram a minha dor... mas foram interrompidas pela voz estridente de Júlio Clemente: "Grita 'sereno'! Agora!"
E então eu ergui a cabeça o mais que pude... enchi ao máximo os meus pulmões... e gritei...:
! ! ! ! ! ! ! I M P Á V I D O ! ! ! ! ! ! !
O meu grito ficou no ar durante aquilo que me pareceu uma eternidade... fazendo com que todos os membros da APIS se arrepiassem e vibrassem com a minha força, a minha vontade, o meu querer e as minhas calças que misteriosamente continuavam simultaneamente na minha cintura e a cobrir os cordões das minhas sapatilhas. Foi então que Júlio Clemente, na sua infinita bondade e misericórdia, disse: "Estiquem-no mais um bocado e executem-no... não, esperem. Hum... Estiquem-no até ele falecer porque assim poupa-se tempo a preencher a papelada."
Escusado será dizer que a dor voltou no seu expoente máximo. Mas movidos pela minha demonstração de coragem, os meus companheiros de ideais revoltaram-se contra Júlio Clemente e seus capangas, conseguido-os dominar e me tirar daquela máquina infernal perante a impavidez dos restantes membros da APIS.
Seguiu-se uma difícil e morosa recuperação no Hospital Pedro Hispano... e finalmente chegamos a este dia. Dia em que vos conto o porquê de há quatro meses eu medir 1,86 m e de agora medir 3,17 m...
1 Comments:
Nequinha... és grande! literalmente! xD
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Anónimo, at 10:23 da tarde
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